“Onde que começa isso tudo?”, eu me pergunto, a cada vez que minha cabeça começa a formar raciocínios que podem compor um bom texto. Não estou procurando um texto. Às vezes me parece que eles me procuram, mas não consigo mais colocá-los para fora, fazer-me entender, nem para mim mesma. Andei viciando-me em livros, de todos os tipos. Pela lógica das coisas, se entram muitas palavras, devem sair tantas quanto, mas não acontece. Decidi escrever ao acaso para ver no que dá.
Me olho no espelho, mas não me encaro. Eu sei que tô ficando velha, mas não é o medo de encontrar rugas que me impede de me olhar nos olhos. É que toda vez que faço isso vejo a mesma coisa, algo que estacionou lá em algum lugar dos anos 90, talvez nas Sendas comendo um pacote de Skinny natural. Então eu olho pra tudo no meu rosto, menos os meus olhos, mas ainda sei responder com muita convicção (e segundo um coleguinha, dar “esporro” em quem afirma o contrário), que eles são verdes, e não azuis. Em pleno inferno astral me peguei tentando olhar cada detalhe do meu rosto, talvez eu tenha tomado consciêcia de uma frase que eu mesma coloquei , “estou mais próxima dos 30 que dos 20 agora”, e decidi prestar atenção em tudo pra não perder nenhum detalhe. Afinal, há a nítida sensação de que a vida passa e eu continuo preferindo viver de sonhos, idéias, ao invés de fazê-la se mover.
Olhei, enfim. Na minha cabeça só veio um “hã?”, e nada mais. Incrível, como olho pras pessoas e consigo captar o que há de mais inimaginável, mas de mim só arranco um WTF disfarçado.
Saio da frente do espelho, volto a ler. Ao mesmo tempo, olho pro meu violão, sinto falta ele mas lembro que está sem a corda Mi. Me pergunto por que eu ainda não repus a corda, e me lembro de vários dias dominados pela inércia, a falta de iniciativa, ou pelo excesso de sonhos sem prática. “meu Deus, que pessoa pessimista”, devem pensar os mais desavisados. Nada disso. Concluo isso a cada vez que percebo que falta algo na minha vida, e me recolho num momento de hibernação para traçar a nova estratégia. É como se me dissesse “tá, já consegui algumas metas anteriores, já me livrei de antigos problemas...o que vai mover a vida agora?”. Rá! viu como no fundo é mais otimismo que raiva de uma vida sem emoções? (hum...convenci?)
Escrevo metas. Um Plano de Metas, plagiando algum capítulo da nossa história, mas que logicamente não vai resultar na construção de nenhuma Brasília (até por que eu gosto de esquinas, jamais idealizaria algo daquele tipo), mas poderia objetivar crescer 5 anos em 5 meses, por exemplo. Penso em coisas que gostaria de fazer, outras que necessariamente tenho que fazer. Rabisco aquisições (sim,sapatos, por que não?), atividades que desejo retomar, e marco consultas, uns 5 médicos em uma semana . Esbarro em questões que independem de mim, mas vejo que não é sempre que eu não posso mudar nada.
E daí?
Sonho mais acordada que dormindo (blé! a máxima da minha pieguice). Na verdade descobri que não durmo, parece que minha atividade cerebral não diminui durante a noite. Beleza, descobri mais um médico que preciso visitar. Começo a tomar calmantes pra dormir, ciente de que estou apenas mascarando a situação, mas não posso ficar sem dormir, tenho que trabalhar (o trabalho é o foco do momento, caso não tenha ficado muito claro). A idéia de que preciso de algo que canalize minhas energias durante o dia se reforça, mas caio doente e não consigo correr atrás disso, mais uma vez. Quando estou quase recuperada, é véspera do meu aniversário, e eu não estou nem um pouco animada pra isso. Não consegui marcar nenhuma comemoração, e me vêm à cabeça perguntas “será que as pessoas vão se lembrar? Será que vão se importar em telefonar? Se eu marcar uma festa, vou fracassar, ninguém vai vir”...Volto pra cozinha. Pensar assim demanda energia. Lembro-me que muitas pessoas nem têm o meu último número de telefone, já que eu não me preocupei em guardar o delas e nem de avisar que mudei, já que eu não liguei pra ninguém nos seus aniversários e nem pra saber como estavam. Ninguém deve ligar mesmo então, estarão retornando a mesma atenção que eu dei. Lembro que no meu último plano de metas revi a forma como tratava as pessoas, pois poderia não estar sendo quem sou. Não sei, francamente, se teve efeito. Nunca vão parar de me rotular como mau-humorada e impaciente, mas desejo que as pessoas recém-chegadas na minha vida tenham uma visão mais leve. Ouvir “de personalidade forte” é kitsch, mas preferível face ao famoso “tolerância zero”. Começo a entender o por que de tanta impaciência com este dia, o por que do ar despretensioso com qual comentava uma possível celebração de aniversário com as pessoas. Medo.
Volto a ler, e consequentemente, a sonhar. Fazendo uma breve retrospectiva: quando criança, sonhava ser uma paquita, Xuxa, Barbie, Changerman, Alex Kid...atriz. Daqui a pouco estava eu sonhando ser uma Spice Girl ou um X-men. Melhor parar antes que vire patológico.
Hoje eu sonho com coisas paupáveis (embora ainda ache a idéia do X-men super atrativa), reviravolta de situações reais, eu dizendo umas verdades na cara de alguém (teria uma lista imensa pra isso), tendo a chance de me redimir de algo ou ainda realizando algo super importante (humm..teletransporte...)
Paro de sonhar para resolver uma pendência da semana anterior: as pessoas me perguntam o que vou fazer para comemorar meu aniversário. Não consigo pensar em nada. Será que é por que eu não vejo nada pra comemorar? Não posso me dar ao direito de responder isso, até por que se fosse o caso, as pessoas odeiam franqueza, pessimismos, então apenas digo que estou sem idéias. O que é verdade, só ausência de idéias, talvez também de tempo (óbvio). Melhor parar e ir dormir, quem sabe com o fim do inferno astral eu melhore a visão sobre essas coisas. Acho que preferia pensar que meu aniversário seria mais um dia comum, eu com pantufas e um roupão felpudo, uma caneca de chocolate e uma revista de palavras-cruzadas. Paz.
Isso não vai ser possível. Então penso na maquiagem de humor que eu vou usar quando as pessoas começarem a aparecer por aqui, exigindo uma celebração maior. Espero com certa veemência que algum corretivo disfarce a vontade de dizer “então organize você, que eu não tô afim de fracassar”, pois possivelmente isso levaria as pessoas a me indicarem um psiquiatra. Tolices.
Sinto vontade de deitar e dormir, mas temo que a minha insônia só piore o desfecho do dia. Não sei como consigo oscilar entre tantos altos e baixos, de tantas naturezas diferentes. Me vejo um soldado do front que de repente se pega combalido por uma granada, no meu caso, imensa onda depressora, muito mais mutilante que a granada. No fundo é uma guerra pessoal, fria, no sentido literal e histórico, em que mesmo que eu pudesse recrutar soldados pra lutar seria inútil, um paliativo. Como a maracujina e a contagem inversa. Santos soldados.
Preciso estudar. Desejo informações, saber, conhecer, coisas, fatos e pessoas, a mim mesma. Este último não vou encontrar em nenhuma enciclopédia (espero mesmo que não, vai que a explicação está em algum livro de psicanálise? Tô fora. Assim como o Google um dia mata quem procura sobre doenças, a psicanálise faz um gráfico de pizza definindo a sociedade como dividida entre depressivos, psicopatas, e é claro, bipolares). Vou em frente e faço acontecer, ponto pra mim!
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VOCÊ ESTA VIVA E SÓ ISSO JÁ É MOTIVO DE COMEMORAÇÃO.
ResponderExcluirLEMBRE-SE QUE, ATÉ POUCO TEMPO, VOCÊ TEVE UM EXEMPLO BEM CLARO QUE "TUDO ACABA NUM PISCAR DE OLHOS"
ENTÃO ABRA OS OLHOS, SORRIA PRO MUNDO E CAI PRA DENTRO.
Claro, chuchu...tenho uma vida linda e a melhor famíla do mundo, o resto é complemento!
ResponderExcluireu me referia justamente à isso..ter que agendar uma comemoração...eu acho que mtos pequenos momentos que acontecem por acaso já são comemorações!