terça-feira, 18 de maio de 2010

O tempo é cruel?

Eis a questão. O tempo é o mais famoso e consagrado leva e trás. É alvo de uma luta constante, as mulheres querem apagar os sinais físicos e os homens nem deixam os sinais mentais aparecerem (hehe, brincadeirinha, não podia deixar de ter uma alfinetadazinha de leve). O tempo me faz pensar, hoje, na forma como eu o aproveito, estando claro para mim que ele é limitado, ao menos para esta existência.
Ele te trás experiência, mas leva o vigor físico. Te leva a inocência, mas te deixa menos sonhador. Quanto mais ele passa, menos você o detém. E ele não gosta de voltar atrás. A cada dia precisamos cada vez mais dele, pedimos dias de 48h, curtimos menos as coisas mais simples, vivemos à base da pressa, à base do “deixa pra amanhã, por que hoje não vai dar tempo”, e quando você pensa no seu dia, vê que na prática não aconteceu nada, só por e-mail ou MSN. Mandamos e-mails por que é mais prático, por isso vemos e falamos menos com as pessoas, resolvemos “coisas” via MSN por que não nos exige colocar a cara à tapa. As relações impessoais crescem, a troca de gentilezas diminui. E como “gentileza gera gentileza”, a coisa anda ficando escassa. As pessoas são cada vez menos marcantes na vida umas das outras, claro, mal há tempo para se trocar um olhar que dirá um gesto. E paradoxalmente as pessoas têm conseguido encontrar dentro de si a frieza necessária para tirar uma vida da forma mais rápida e irracional possível (se é que se pode dizer que há forma racional de fazê-lo), tornado-se assim, muito marcantes na vida dos que perderam mais alguém. Mas esse não é o foco no momento.
Segunda-feira. Ninguém gosta, claro. Há uma onda de depressão Express durante o anúncio do Fantástico, que se estende até aquela manhã especialmente cinzenta, sem-graça, sem ânimo, e com muito, mas muito trânsito. É a própria descrição do inferno astral semanal de cada um. Então você entra no ônibus (quando consegue, claro) e olha “pros córnos” do motorista, balbucia um bom dia por educação e entra, dando uma leve bufadinha quando passa na roleta (aliás, já reparou que a maioria das pessoas torce a boca pra passar na roleta??repara só!)e cata um canto pra sentar. Todo mundo detesta sentar no corredor por que fatalmente o ônibus vai encher e vai ter alguém ou sentando, ou apoiando 3 sacolas no seu ombro. Fora as bonitas que andam com aquele Mega Hair e ficam chicoteando ele, na sua cara. Isso por que você já se conformou (espero) de que vai chegar atrasado e entrar no cheque-especial do seu banco de horas. Demais, né?
Aí você entra, já com cara de poucos amigos, passa a frente do coleguinha pra bater o ponto e nessa “acidentalmente” bate a porta na cara dele, não precisa nem mencionar que não rolou um “ bom dia”. E assim o dia se arrasta, até a hora em que finalmente você pode voltar pra casa e esperar um restante de semana melhor.
Que tal reescrever esse dia?
Segunda-feira. Beleza, ninguém gosta, mas seria interessante se cada um procurasse fazer uma coisa mínima para tornar o dia do outro um pouco diferente. Primeiro de tudo:se te deprime, evite assistir o Fantástico, pelo menos não em casa, sozinho. Vá ao cinema, passeie na praia com alguém que você gosta muito, ria à toa com seus familiares, coma alguma besteira que você gosta muito, beba um bom vinho e vá dormir (não vale usar Vinho+Valium). Isso pra não mencionar opções mais convidativas, que variam de acordo com a particularidade de cada um, o importante é fazer algo que se goste muito. A semana já começa diferente.
Você pode olhar pra cara do motorista e dizer bom dia de verdade (sem, é claro, aquele ar de “Polyanna-bom dia,flor do dia!” que ninguém acha sincero), mas de fato, desejar que o cara tenha um bom dia. Você detesta andar naquela merda lotada pra ir e voltar, ele tem que andar quase o dia inteiro. Aí você senta, se puder. Conseguiu a janela? Beleza, não conseguiu? Se o coleguinha parar e quiser fazer você de puff, ofereça para segurar a bolsa dele. Garanto que isso vai deixar ele um pouquinho mais educado, e menos irritado de estar em pé. Coloca seu mp3 no ouvido e vai, relaxa, todo mundo já sabe que você vai chegar atrasado, e quem não sabe é por que chega ainda depois de você. Aí na hora de você bater o ponto a moça da limpeza tá tentando virar polvo pra abrir a porta e carregar o carrinho. Abra a porta pra ela e dê bom dia. Se pelo menos o seu dia não for melhor, o dela será.

Por que começar a falar do tempo pela segunda-feira? O fato é que cada vez mais a semana passa rápido, talvez por já começar num dia que 90% das pessoas desejam profundamente que se vá logo. E aí quando você percebe já é terça e você não marcou seu médico, é quarta e você ainda não comprou o presente de casamento do seu amigo, na quinta nada de levar seu carro pra revisão, sexta feira...pô, sexta- feira péra lá, é dia de chopp!(disso todo mundo lembra...rsrs)E aí no sábado você tem um casamento, um aniversário e ainda por cima marcou de levar seus sobrinhos ao cinema. Depois que você se deu conta de que não conseguiu fazer nenhuma das 3 coisas que tinha pra fazer, vai dormir puto da vida, pra passar o domingo “daquele jeito” (semana baseada em fatos reais).
E assim o tempo foi passando, e a razão entre os “sim” e “não” eu você disse à convites de amigos é bem menor que 1, quando não tende a zero. As coisas foram acontecendo e você não viu quase nenhuma de perto, quase não se emocionou, não trocou experiências, não ajudou ninguém, não teve coragem de dizer o que sentia de verdade, e ficou aí, se arrependendo do que não fez...
Me dei conta disso tudo dia desses, observando certas coisas. Um amigo que não vejo há muito colocou no Orkut a frase “aaaah! Monografia!!”, e me assustei, por que foi quase ontem que ele começou a faculdade. E percebi que não acompanhei isso com ele por que sempre achava que não havia tempo para estarmos juntos e fazermos as coisas simples de sempre. Quando comentei isso ele retrucou (como sempre, sabiamente):” é.... e a minha calvície cada vez mais se aproxima.... tem coisa mais cruel que o tempo? ... ai q saudades dos tempos de torta na cara...rs “.O mesmo vale para uma amiga que me convidou para ser madrinha de casamento dela há mais de 8 meses, e pasme, até hoje não nos encontramos, nem no chá de panela, e quando dei por mim o casamento é daqui a 3 dias. Tinha um casal que vivia me convidando pra ir fazer trilha ou Paint Ball com eles, e eu sempre achando que não dava, sendo que agora eles se separaram e pode ser que demore pra eu ter essa oportunidade de novo. Enfim, aí surge uma fila de “etc, etc...”
Não vou encerrar este texto com um clichê, até por que eu não concordo com a maioria deles. Não viva cada dia como se fosse o último, por que se realmente fosse e você tivesse essa certeza, isso te tiraria o juízo e você faria um monte de merda. Viva a cada dia com a intenção de tornar o seguinte melhor ainda, é assim que se aprende a valorizar a vida, e no dia em que for de fato o último você vai saber que fez o melhor. Fugir das oportunidades pode diminuir sua chance de se dar mal, mas diminui igualmente a de se dar bem, sendo que em qualquer das duas situações há aquisição de aprendizado, e isso não tem preço. Na verdade, as coisas que realmente ficam não têm preço, a não ser o que se paga por deixá-las escapar...

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