Sério, ser boneca é um talento. Ser delicada, se vestir
sempre “bonitinha”, cabelinho arrumado, comer e beber com moderação, ser enfim
um exemplo de disciplina. Os contras são óbvios, mas formam um paradoxo, por
que acredito que ser boneca é uma opção, então a pessoa não se incomoda em não
se permitir coisas. Não se sente presa. Será?
Quem na vida nunca fez algo que parecia bonito aos olhos da
sociedade e depois surtou e quis dar um grito de liberdade, por favor, atire a
primeira pedra agora em seu monitor. Você é um robô e não precisa dele. A não ser que você
seja sem personalidade, mas aí duvido que tenha parado pra ler um texto com
esse título.
Vou dizer que acho bonito,viu. Acho bonito quem consegue
manter o cabelinho alinhado, o rosto com efeito “matte”, e uma essência de
sandália Melissa até se for num churrasco. Mas assim, só acho bonito. A
Impressão que me passa é uma pessoa numa lata de sardinha, aprisionada em sabe
Deus o quê. Passa aquela lingüiça escorrendo gordura e diz que não, mas queria
mesmo era molhar a farofa e misturar tudo. Ouve um pagodinho e quer fazer
carinha de quem tá gostando demais, mas diz que prefere trance. Enfim,né.
Devo confessar, eu não sou boneca. Não sou nenhuma flor. Não
que eu não seja cheirosa, vaidosa, nada disso. Amo me cuidar. Mas só consigo
manter a linha até onde o limite do meu desejo de fazer aquilo que me dá prazer
me permite. Eu quero fazer dieta, ficar gostosa e sarada, mas se na volta da
academia eu encontro uns amigos tomando um chopp, plena sexta-feira...eu paro.
Paro nem que seja pra tomar um ou dois. Dieta não combina com vida social. E
vida social traz boa parte da alegria de toda uma vida.
Quero poder dizer que comi um saco de batata-frita sem
culpa, desabafar que surtei e comi um pacote de biscoito recheado sozinha, sem
ninguém me olhar como se eu não tivesse força de vontade. Mermão...eu tenho
força de vontade sim, principalmente pra
viver. Quando a gordura me incomoda, faço dieta. Se não me incomoda mais, eu
como. Como com prazer, bebo pra ficar ruim. Faço um tributo à todas as obras do
capiroto na Terra: chocolate, rabanada, pizza, salgadinhos, comida de boteco,
sorvete, bolo, lasanha...Viva à batata-frita! Viva àquela gordurinha charmosa
no flanco! Mas principalmente: viva à mulheres felizes, que vivem como querem
viver.
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